Os evangelhos narram
duas histórias distintas que de tão semelhantes chegam a confundir até mesmo
leitores atentos. Ambas falam sobre mulheres que demonstraram sua gratidão pelo
amor do Cristo através do emblemático gesto de “ungir” seus pés com perfumes
caríssimos.
Mateus 26:2-13 e Marcos
14:3-9 registram a ação da mulher que durante um jantar realizado em Betânia,
na casa de Simão, o “Leproso” (pai de Judas Iscariotes, e que fora curado
por Jesus de sua lepra), se aproxima de Jesus tendo nas mãos um vaso de
alabastro (material semelhante ao gesso). Ela se ajoelha em
frente a Jesus e começa a derramar em seus pés um caríssimo perfume feito de “nardo
puríssimo” para depois enxugar o precioso líquido com os próprios
cabelos. Os discípulos se indignaram com a cena, pois entendiam que aquela era
uma atitude dispendiosa, já que o dinheiro ali empregado, poderia ser doado aos
pobres. Segundo a avaliação de Judas, tesoureiro do grupo, o valor ali
desperdiçado era de aproximadamente 300 denários, cerca de R$ 15.000.
Ao ver a postura
reprobatória de seus seguidores, Jesus os exorta dizendo que aquele era um
gesto único de amor, acalentando seu coração para enfrentar a própria morte, e
que o mesmo, ecoaria pela posteridade. Além disto, Jesus lembrou os discípulos
que eles ainda teriam muito tempo para exercer a generosidade para com
necessitados, porém, muito brevemente seriam privados de sua companhia.
João 12:1-8 também
registra esta mesma história, mas desta vez, nos é revelado o nome da mulher
generosa: Maria, irmã de Lázaro.
Lucas 7:36-50 nos conta
uma história muito parecida, porém, em um cenário diferente. Muito antes do
famoso “Jantar de Betânia”, uma outra mulher também se lançou aos pés de Jesus
para ungi-lo com perfume. Não sabemos o seu nome e nem sua origem, pois a única
referência dada pelo evangelista é que se tratava de uma “pecadora”. É provável
que este fato específico tenha acontecido na Galileia, enquanto Jesus
participava de um jantar na casa de Simão, o “Fariseu”.
Num ambiente repleto de
pessoas muito ligadas a religiosidade judaica, em nome do amor e movida por
íntima gratidão, uma mulher de péssima reputação social, rompe com as
conveniências, adentra a casa de um homem muito religioso, não se detém diante
de monções reprovadoras e caminha determinada, com os olhos fixos em Jesus.
Humildemente, ela se nega a ficar diante do Messias, e se colocando atrás de
Jesus, abraça seus pés e se põem a beija-los, para logo em seguida, começar a
chorar. Ao perceber que suas lágrimas estão molhando os pés do Senhor, ela passa
e enxugá-los com seu cabelo, e então, derrama sobre eles, sem nenhuma reserva,
o perfume de aroma delicioso que trazia consigo, ungindo os pés de Jesus.
O religioso Simão estava
começando a ver Jesus com outros olhos. Seu interesse em ouvir as palavras do
Mestre nos leva a crer que a sementinha do Reino de Deus dava sinais de brotar
em seu coração. Mas ao assistir a cena da pecadora ungindo os pés de Jesus,
ficou tão abalado, que sua infante fé, minguou como manteiga no fogo.
Em seus pensamentos Simão
conjecturava que não havia qualquer possibilidade de Jesus ser de fato um
profeta, pois um homem dotado da revelação divina, teria discernimento para
compreender o quão pecadora aquela mulher era, e assim, jamais permitir que a
mesma o tocasse.
Jesus, ciente dos pensamentos de
seu anfitrião, educadamente pede que o mesmo lhe de permissão para contar uma
história. O Mestre discorre sobre dois homens endividados, cujos bens
estão empenhorados ao mesmo credor. Um deles está negativado em mais de RS
25.000,00, e ele não tem a menor condição de pagar. Já dívida do outro, embora
também seja alta e o pagamento esteja muito atrasado, é 10 vezes menor. O
credor, porém, decide perdoar ambas as dívidas, e manda notificar aos
envolvidos, que nenhum deles lhe deve se quer um centavo. Então, Jesus
questiona a Simão sobre qual dos homens deveria mostrar mais gratidão, e em
resposta, ouve o obvio: Aquele que devia mais. O Mestre, concorda com o raciocínio de Simão e completa
dizendo: - Desta vez, seu julgamento está
correto.... Mas deixe-me te explicar uma coisa...
Simão é lembrado que no
momento da recepção de Jesus em sua casa, nem mesmo um beijo no rosto (tão
inerente a cultura da época) lhe foi dado pelo anfitrião, mas a mulher, desde o
momento que chegou, não parava de beijar seus pés. Simão também não tinha
oferecido uma vasilha com água para que seus convidados lavassem as mãos (outro
ritual relevante naquela sociedade), mas a “pecadora” lavou seus pés com
lágrimas. Simão não ofereceu um único pedaço de pano para que Jesus enxugasse o
suor de seu rosto, mas a mulher enxugava seus pés com os próprios cabelos.
Simão, não disponibilizou uma única gota de óleo para ungir a cabeça de
Jesus... A pecadora verteu o mais caro dos perfumes para ungir seus pés. E por
que tamanha diferença? Jesus é taxativo ao afirmar: - Quem foi perdoado
sabe amar...
Duas
histórias distintas de mulheres movidas por sentimentos muito
parecidos, que testemunharam de forma pratica e incontestável o quão
maravilhoso é mergulhar sem reservas no oceano da Graça. Voluntariamente elas
escolheram a melhor parte, e entenderam que não existe lugar mais desejável
para se estar, do que os pés de Jesus.
A virtuosa Maria de
Betânia, tinha motivos explícitos para tamanha devoção. Movida pelo amor que
sentia por Jesus, seu mestre e amigo, ela aproveita a estadia do Cristo em sua
cidade, para através da entrega de seu bem mais precioso, agradecer ao Messias
por ter trazido seu irmão Lázaro de volta para vida, e involuntariamente, entra
para a história como a mulher que ungiu Jesus e o preparou para enfrentar a
cruz e o sepulcro.
A pecadora anônima não
tinha motivos aparentes que justificasse sua atitude, e também não temos
qualquer evidência que Jesus tenha curado alguém de sua família. Mas ali,
naquele momento sublime, o Cristo olha além das aparências e descortina o
coração daquela mulher. Ela estava grata pelo maior de todos os milagres...
Tinha encontrado Salvação.
Com seu gesto, Maria
agradeceu a Jesus pelo dom da vida. A pecadora agradecia por ter encontrado a
própria Vida e o perdão para seus pecados.
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