quinta-feira, 22 de outubro de 2015

EBD - O exercício da misericórdia manifesta a graça de Deus


Texto Áureo
Filemom 15
Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesses para sempre”

Verdade Aplicada
Através da revelação da graça, nasceu uma nova relação, na qual todas as diferenças externas são abolidas, pelo fato de que todos nos tornamos irmãos e filhos do mesmo Pai.

Textos de Referência
Filemom 10-16

Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões; o qual, noutro tempo, te foi inútil, mas agora a ti e a mim muito útil; eu to tornei a enviar.
E tu torna a recebê-lo como as minhas entranhas.
Eu bem o quisera conservar comigo, para que por ti me servisse nas prisões do evangelho; mas nada quis fazer sem o teu parecer, para que o teu benefício não fosse como por força, mas, voluntário.
Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.
E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta.


A Lei do Amor

Na visão de Paulo, mas vale sair no prejuízo do que entrar em litígio com um irmão de fé (I Coríntios 6:6-7). Antes de escrever sua primeira carta à igreja em Coríntios, o apóstolo havia recebido notícias perturbadoras sobre aquela comunidade. Eles estavam vivendo imersos em conflitos teológicos e rupturas doutrinárias. Paulo envia para aquela igreja a sua carta mais “agressiva”, tratando-os como meninos na fé, levianos e sem amadurecimento espiritual. Entre os diversos temas abordados na epístola, três dele recebem de Paulo uma atenção especial: dissensões (capitulo 3), litígios (capitulo 4) e divórcios (capitulo 7). Estas questões de destacam entre as demais por um motivo bem específico. Além de corroborar com a crescente ruptura nos laços fraternais daquela comunidade, estavam expondo a igreja diante da sociedade, entregando causas genuinamente eclesiástica ao julgamento secular. Paulo, não se conformava com isso. Após advertir os corintos com veemência sobre a postura que deveriam ter como cristãos, portadores da uma promessa que serão juízes do mundo, e não o contrário, Paulo interpela para que trilhem o mais excelente dos caminhos: a caridade. No amor se resume a fé cristã, todo o mandamento divino e a vida cotidiana do cristão. Em sua essência, podemos considerar que o amor é o maior de todos os presentes dados por Deus ao ser humano, seja no privilégio de ser amado ou na capacidade de amar. O amor é a base da nossa pregação, é o lema de nossa cruzada celeste, a motivação de nosso serviço e a coluna cervical dos frutos espirituais.

Deus nos ama incondicionalmente, e este é sem dúvida o mais valioso dos presentes. É desfrutando plenamente deste amor que obtemos os meios necessários para manifesta-lo ao próximo. Entretanto, é necessário entender que o amor cristão exercido diariamente não deve ser dado a nós por Deus, mas sim desenvolvido por nós para Deus. Primeiramente porque Deus já nos amou e por amor Jesus Cristo deu sua vida por nós e agora, imersos neste amor, precisamos desenvolver um amor genuíno por aqueles que nos cercam e para com o nosso próprio Senhor. O desenvolvimento do amor fraternal foi o argumento definitivo de Paulo para dar uma resolução permanente aos embates existentes na igreja de Corinto. Paulo os aconselha a pautarem suas ações e decisões no amor, pois ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (I Coríntios 13:7). Agora, escrevendo a seu amigo Filemom, Paulo lança mais uma vez o mesmo argumento, afim de sanar uma divergência do passado. O que Paulo insistia em ensinar aos seus discípulos é que qualquer julgamento dentro da igreja deve primeiramente passar pela peneira do amor.

Filemom era um bom cristão. Exercia influência positiva na igreja de Colossos, sendo identificado por Paulo como um grande motivador, com a capacidade de reanimar o coração dos santos (Filemom 7). Aquele, sem dúvidas, era um homem de muitas virtudes e deveras amoroso. Mas ainda existia em Filemom um resquício do passado, quando foi usurpado por um de seus servos. Onésimo causou grande perca a Filemom e se embrenhou pelo mundo, deixando aquela ferida emocional aberta e sem resolução. Havia chegado a hora de agressor e agredido, defraudador e defraudado, assaltando e assaltado se olharem nos olhos mais uma vez, só que agora não como senhorio e escravo, mas sim como irmãos em Cristo. Paulo deseja ardorosamente que este reencontro aconteça, pois, além de ser o “pai” espiritual de ambos, tornou-se amigo pessoal de cada um deles, conhecendo o coração generoso de seus filhos na fé.


Conhecendo os personagens

A epístola dirigida a Filemom é de uma preciosidade inigualável no Cânon Sagrado. Ela revela o que a graça de Deus pode realizar na vida de pessoas escravas e sem perspectivas como Onésimo, o escravo que se tornou irmão. A epístola não nos revela o que realmente Onésimo usurpou de seu senhor Filemom. Ela apenas diz que ele fugiu em direção a Roma e pode ter furtado algo de valor para garantir-se (Filemom 18-19). Por meio de circunstâncias não registradas na Palavra de Deus, Onésimo conheceu o Apóstolo Paulo na prisão e tornou-se cristão.  Ao que parece, Filemom era um rico cidadão de Colossos. Sua conversão se operara através da pregação do apóstolo e existem fortes laços de amizade entre eles (Filemom 17-22). Filemom é descrito por Pulo como um homem de amor e de fé, tanto para com Jesus Cristo quanto para com o povo de Deus. Seu amor era prático. Ele reanimava os santos por meio de suas palavras e de seu trabalho (Filemom 7). AS igrejas do Novo Testamento reuniam-se nos lares (Romanos 16:5-23 / I Coríntios 16:19). É bem provável que a igreja na casa de Filemom fosse uma das duas congregações de Colossos (Colossenses 4:15). Por se tratar de um homem muito rico, Filemom tinha escravos em sua casa, uma prática comum, visto que mais de um terço da população do Império Romano estava sob o jugo da servidão. A posição dos escravos no Império Romano era muito humilhante. Um escravo não era visto como uma pessoa; era uma ferramenta vivente. Qualquer senhor tinha direito de vida e morte sobre seus escravos. Poderia condená-los a tarefa pesadas, ordenando até que trabalhassem acorrentados no campo. O senhor poderia castiga-los com golpes de vara, ou até mesmo marca-los na fronte como se marcava um animal. Caso fossem ladrões ou fugitivos e, se comprovasse que era impossível corrigi-los, este senhor poderia crucifica-los.

Onésimo nasceu escravo, sem Deus e sem esperanças (Efésios 2:11- 12). Certamente, motivado pela pregação que ouviu, desejou ser livre e partiu para Roma. Ele escolheu seu próprio caminho de liberdade, mas algo parece não ter mudado em sua vida e resultou em uma prisão, pior ainda que a escravidão. É nessa hora que ele encontra um preso chamado Paulo, que lhe anuncia a salvação e daí por diante, ele se torna um homem livre e útil ao apóstolo (Filemom 10-14). Paulo escreve uma carta a seu filho na fé Filemom, dizendo que receba em suas entranhas. Onésimo agora deve voltar, mas volta numa condição diferente. Ele retorna como irmão em Cristo (Romanos 8:1). A manifestação da graça salvadora é fruto do Deus Salvador que nos ama profundamente em Cristo. O nosso Deus nos ama não para barganhar conosco, mas porque Ele é amor (I João 4:8). O Evangelho de Cristo é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16). A manifestação do Evangelho da graça de Deus revela a nossa condição vil, a ação soberana de Deus em nos buscar em Cristo e a plena segurança que temos nEle. É por causa desta graça que temos o lindo cântico de Moisés em Apocalipse 15:3-4. O Senhor Jesus deixou bem claro o motivo da sua vinda: buscar e salvar o que se havia perdido (Lucas 19:10). Deus é glorificado quando um homem é salvo por Sua maravilhosa graça. Exatamente como na vida de Onésimo.

Na epístola, Paulo tipifica o Senhor Jesus Cristo, Onésimo, a humanidade pecadora e escrava, e Filemom, o Pai, que deve conceder o perdão ao pecador regenerado por Cristo. Paulo gostaria de ficar com Onésimo, mas o envia de volta a Filemom, Porque não deseja fazer nada sem o seu consentimento (Filemom 13-14). O cristianismo não existe para ajudar os crentes a escaparem de seus pecados. Ele existe para capacitar os seguidores de Cristo a enfrentar o passado e a elevar-se acima dele. Onésimo tinha escapado, mas deveria voltar e enfrentar as consequências de seus atos. O cristianismo não é uma fuga dos erros do passado. É a conquista de uma nova vida (João 8:12 / Romanos 6:4). Onésimo morava dentro da igreja, mas não era livre. Ele encontrou sua liberdade numa prisão. Que paradoxo! Dois presos se encontram numa prisão e um preso liberta o outro. Paredes podem aprisionar um corpo, mas jamais poderão aprisionar o espírito. 


Encontrando Deus em lugares inesperados

Deus sempre tem um plano meticuloso para a vida do homem. Nossos dias são escritos no seu livro antes mesmo que nossos ossos estejam formados no ventre. O Senhor deseja que caminhemos linearmente rumo aos seus propósitos, mas respeita nosso livre arbítrio. Seguimos nossos instintos e acabamos presos num emaranhado de erros que prendem nossos pés e impedem nossa jornada. Assim, fazemos paradas não planejadas, estagnamos em trechos transitórios e passamos a viver de situações improvisadas e lugares inóspitos. Porém Deus não desiste de nós, e também se embrenha em nosso mundo tortuoso, ganhando passos a nossa frente, facilitando “encontros” na beira do caminho. Por mais perdido que estejamos, basta olhar em volta com um pouco mais de atenção para perceber que Deus está lá, nos aguardando com um sorriso no rosto. A história de Filemom e Onésimo é uma prova incontestável desta verdade. Onde olhares incautos apenas identificarão uma série de coincidências, é possível constatar o trabalhar detalhado e perfeccionista de Deus. Filemom era um homem de posses, que se converteu ao evangelho após a incursão de Paulo na cidade de Colossos. Seu envolvimento com a obra de Deus foi notório e digno de elogios, já que era ativo na proclamação do Evangelho, cedendo sua casa para que uma igreja fosse estabelecida ali. Sendo muito rico e vivendo sob a égide do Império Romano que dava legalidade a escravidão, Filemom era sim dono de diversos escravos.

Onésimo é historicamente lembrado como sendo um dos maiores líderes da igreja de Efésio, mas aqui, aparece apenas como um dos escravos de Filemom. Por algum motivo não relevado, Onésimo fugiu para Roma, aparentemente levando consigo alguns valores e causando grande prejuízo ao seu senhor. Ele, porém, acabou sendo preso em algum ponto de seu caminho, sendo conduzido a uma prisão. Foi exatamente neste período de sua vida, que o escravo fujão passou a conviver com um prisioneiro ilustre chamado Paulo. Não sabemos ao certo se ambos dividiram uma cela em Roma ou se a amizade se desenvolveu em Éfeso, quando Paulo esteve preso pela primeira vez. Certo é, que Onésimo também aceitou o Evangelho de Cristo, se tornando um colaborador ministerial de Paulo, que por sua vez era o mentor espiritual de Filemom, por quem também nutria grande amizade. Coincidência?

Há um ditado popular que diz: o amigo de meu amigo é meu amigo. Agora, Paulo possui vínculos fraternais com duas pessoas que entre elas conservam uma rusga do passado. O apostolo vê então a oportunidade de usar sua influência junto a ambos para por um fim definitivo a esta questão. A carta para Filemom é mais pessoal das epistolas paulinas, e pode ser entendida como um pedido particular do apóstolo a seu amigo Filemom para que o mesmo perdoe seu também amigo Onésimo. Teria o escravo aproveitado um momento de distração do senhorio que ouvia atentamente as palavras de um missionário para fugir? Quem sabe. Mas quais seriam as reais possibilidades deste mesmo missionário ser preso por amor a Cristo e acabar dividindo sua cela com um escravo foragido de uma das casas onde ministrará meses atrás? Tudo estava engendrado pelo Senhor, e a perseverança de Paulo foi o ponto de equilíbrio numa história que parecia ser trágica e vertiginosa. Em sua liberdade, Paulo fez um amigo chamado Filemom, e a igreja de Colosso ganhou um excelente obreiro. Em prisão, desenvolveu a amizade de Onésimo, e a igreja de Éfeso ganhou um bispo. Deus revela-se perfeito em seus encontros, nem que seja no mais inesperado dos lugares.


A conversão de Onésimo

Como escravo fugitivo, Onésimo deveria ser punido se voltasse para a casa de seu senhor. Porém, a graça de Deus o encontrou. Agora, as coisas mudaram de figura porque, diante de Deus. Filemom também devera recebe-lo como um irmão e perdoá-lo por seus agravos (II Coríntios 2:10). Paulo afirma a Filemom que Onésimo em outro tempo lhe era inútil. Ele faz um trocadilho com o significado de seu nome que quer dizer “útil”. E diz: “agora” a ti e a mim muito útil (Filemom 11). Agora quando? Agora que a Palavra de Deus o transformou. Dentro da prisão, a vida de Onésimo sofre uma grandiosa mutação (Filemom 9-10). Ele passa da condição de escravo a irmão de Filemom. Agora Onésimo tem um defensor, Paulo, que prepara uma carta de próprio punho e endereça a Filemom, testemunhando aquela transformação e coloca-se diante de Filemom como um seguro para Onésimo. A prisão de Paulo foi a solução para a vida de Onésimo (II Timóteo 2:9-10). Geralmente, quando não compreendemos os propósitos divinos, reclamamos das situações adversas que estamos passando. Paulo foi para a prisão por causa de Cristo e por amor a Cristo. Paulo descobriu a beleza do Evangelho numa prisão. Ele era livre, mesmo algemado e preso numa cela. Se não estivesse lá, Onésimo não seria salvo. O que Paulo pudesse pensar ser injustiça era uma oportunidade para a salvação de um perdido (Filemom 10).  

Paulo não se apresenta a Filemom como apóstolo ou líder, mas como prisioneiro de Cristo e como amigo (Filemom 1). Paulo declara que Onésimo é seu filho na fé e, dirigindo-se com amor, traça um elogio ao trabalho que executa em sua casa e como as pessoas que recebem sua palavra testemunharam com alegria (Filemom 5-7). Paulo não usa sua autoridade apostólica. Ele pede com um carinho especial de pai para que Filemom o receba e afirma que gostaria que Onésimo ficassem em Roma para ajuda-lo, mas sabendo a quem ele pertence, o envia para que haja uma reconciliação (Filemom 8-14). E finaliza dizendo: “Escrevi-te confiando na tua obediência, sabendo que ainda farás mais do que digo” (Filemom 21). Quando nos preocupamos e oramos pelos nossos amigos, o Senhor recompensa-nos abundantemente, concedendo-nos até aquilo que não pedimos (Jó 42:10). Mesmo em situações de profunda crise, a intercessão em favor dos outros traz grandíssima recompensa (Ester 4:14-17 / 8:15-17). Daniel orava três vezes ao dia. Ele era um deportado. Ele também estava longe dos seus em terra estranha, mas intercedia pela sua família e pelos seus concidadãos todos os dias. A recompensa veio de várias maneiras. Ele foi salvo da boca dos leões. Ele tornou-se um príncipe e o chefe dos sábios. Ele foi exaltado perante o rei e, por fim, foi agraciado com a presença de um anjo, fazendo dele um profeta escatológico (Daniel 10:2-12). Além das grandes vantagens que a intercessão traz à igreja, à família, ao país e aos crentes em particular, o intercessor é contemplado com a graça e a misericórdia de Deus de forma abundante, traduzida em bênçãos, tal como aconteceu com os servos de Deus no passado.

Onésimo encontrou no cárcere de Roma nada menos que o homem que havia pregado para o seu senhor. Pode-se dizer que Onésimo foi um homem agraciado em todos os sentidos. Ao interceder, Paulo relembra algo a Filemom: “Ainda que tenha Cristo grande confiança para te mandar o que te convém, todavia peço-te antes por amor” (Filemom 8- 9). Vai ser duro para Filemom considerar como irmão a um escravo fugitivo, mas é exatamente o que Paulo lhe ordena (Filemom 17). O apóstolo também se propõe a pagar todas as perdas que Onésimo tenha acarretado a Filemom, lembrando-o sutilmente que ele lhe deve muito mais que valores, deve-lhe sua vida espiritual (Filemom 18-20). O versículo 19 de Filemom dá a entender que foi Paulo quem levou Filemom a fé em Cristo. O Apóstolo usa esse relacionamento especial para incentivar o amigo a receber Onésimo. Filemom e Onésimo não eram somente irmãos espirituais no Senhor, eles também foram gerados pelo mesmo “pai espiritual” (Filemom 10 / I Coríntios 4:15).


Um mediador entre Deus e homens

O livro de Jó registra a mais longa conversa entre Deus e um ser humano. O patriarca foi atingido pelo caos e tentando justificar a própria condição, apresentou diante do Senhor todos os seus argumentos. Deus o ouviu atentamente e logo depois, respondeu veementemente cada uma das indagações. Ao final da conversa, Jó compreendeu que sua visão limitada não podia entender a grandeza dos planos divinos, e que sua parte nesta relação, era de fato se submeter a vontade do Senhor. Porém, Jó apresenta diante do Todo Poderoso um argumento que de fato repercutiria na eternidade. Jó admite sua pequinês diante de Deus, mas clama por maior justiça nesta relação: Não é homem como eu, para que eu lhe responda e nos enfrentemos em juízo. Se tão-somente houvesse alguém para servir de árbitro entre nós, para impor as mãos sobre nós dois, alguém que afastasse de mim a vara de Deus, para que o seu terror não mais me assustasse! Então eu falaria se m medo; mas não é esse o caso (Jó 9:32-35). O patriarca percebeu que jamais poderia olhar nos olhos de Deus, pois as diferenças entre eles eram infinitas. Na sua análise, era necessário um mediador que se pusesse entre os dois, alguém que tivesse compreensão do plano divino, mas também com conhecimento de causa da condição humana. Uma analogia bem simples pode ser encontrada na cozinha de nossas casas. Quem faz um bolo, tem total controle sobre a receita, escolhe e prepara os ingredientes, trabalha a massa e dá formato. Aquece o forno na temperatura que desejar e define quanto tempo a massa deverá ficar no fogo. Em suma, o cozinheiro conhece plenamente o bolo, sabe do que é feito porque foi ele quem o fez. Ele sabe quanto tempo de aquecimento é necessário e conhece o passo a passo da receita, consciente do que virá depois. Mas nunca saberá como é estar “dentro do forno”, pois ele fez o bolo, mas “não é” o bolo. Exatamente por isso, o verbo se fez carne e habitou entre nós (João 1:14).

Para entender a lógica humana, Deus se fez homem.  O mediador pode ser entendido pode ser entendido como alguém que se torna responsável pela conciliação de partes conflitantes. Ele se torna um elo que junta metades antes partidas. Na história de Filemom e Onésimo, o apóstolo Paulo surge como o intermediário que unirá desafetos em laços fraternais. Podemos observar aqui, uma belíssima tipologia para entendermos o papel de Cristo na reconciliação do homem com Deus. Aqui vale lembrar que Onésimo pertencia a Filemom, porém escolheu se afastar de seu senhor. Assim podemos dizer que um representa o PAI abandonado e o outro se torna o filho rebelde. Longe da casa, Onésimo se envolve em situações extremadas que culminam em sua prisão. Ali, ele amargaria dias de solidão e ostracismo, pois ninguém se interessaria em intervir por um homem sem posses e com histórico de escravidão. Mas ali, ele se encontra com um homem culto e muito bem relacionado, que por amor, “optou” ser um prisioneiro do Evangelho. Paulo toma conhecimento da história de seu novo companheiro de cela, e se identifica com o sofrimento alheio, pois também está vivendo uma situação semelhante, partilhando do mesmo teto, do mesmo chão e do mesmo ar. O detalhe é que este prisioneiro elitizado, também tem vínculos muito profundos com o senhorio que fora lesado por Onésimo, o homem que podia lhe devolver a liberdade e detentor do perdão redentor. Paulo fala a língua do senhor e o dialeto do escravo, ele tem a capacidade de olhar ambos nos olhos com a mesma ternura e compaixão. O apostolo, então, age afim de que a reconciliação aconteça.

Ele escreve uma carta a Filemom capaz de amaciar até o coração mais enrijecido. Nela, as novas qualidades de Onésimo são apresentadas, já que o escravo se tornou um obreiro útil e produtivo. As ações de Paulo foram responsáveis pela transformação do caráter daquele homem, que deixando as agruras do passado para traz, havia se tornado um homem cheio de Deus. Paulo pede que Filemom liquide as pendencias recebendo de volta em sua casa o escravo foragido. Com isso a lei dos homens seria cumprida. O apóstolo também autoriza que qualquer valor financeiro devido por Onésimo, seja imediatamente transferido para sua conta pessoal. Uma vez que as dívidas tivessem sido pagas, então Onésimo deveria ser promovido a “irmão” e não mais ser tratado como escravo. Jesus também interpelou ao Deus Pai por cada um de nós, pagando o preço de nossos pecados e nos resgatando da escravidão. E foi muito além: Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer (João 15:15).


Perdendo para ganhar

Se algum dia Filemom anunciou o Evangelho a Onésimo não o sabemos. Mas, ao abraçar ao Senhor, a conversão de Onésimo gerou uma nova relação, onde as diferenças externas foram abolidas e para Filemom era aceitar ou rejeitar (I Coríntios 12:13 / Gálatas 3:28). Onésimo sai como um ladrão e retorna como um irmão. A graça fez com que Filemom e Onésimo se encontrassem num mesmo nível porque Cristo era Senhor de ambos. Paulo diz que Filemom o perdera por um tempo para tê-lo para sempre (Filemom 15). Ou seja, foi preciso que ele perdesse para poder ganhar (Filipenses 3:8). Onésimo tinha fugido como escravo e era como tal que retornava, mas agora não só era um escravo, era também um irmão amado no Senhor. Aquele que antes o servia por medo agora o serviria com amor e como uma pessoa da família (I João 4:16). Essa nova relação nunca dava ao escravo o direito de ser negligente, nem de aproveitar-se; fazia dele um servo mais eficiente, porque agora devia fazer as coisas de tal maneira que pudesse oferece-las a Cristo. Quanto ao senhor significava que já não trataria seu servo como uma coisa, mas sim como uma pessoa e como um irmão em Cristo.

Precisamos estar atentos para entender como Deus está se movendo, para que as verdades do mundo espiritual não passem despercebidas (I Coríntios 2:14, 15). Primeiro, Onésimo furta algo e foge, depois é preso e encontra-se com Paulo, o pai na fé de Filemom e o líder da igreja que presidia. Nada disso aconteceu por acaso. Onésimo e constituiu em um grande teste de fé para Filemom, porque qualquer reação contrária à fé que anunciava poderia manchar seu ministério. O teste de fé era exercer o amor e o perdão que ensinava (Mateus 6:15 / Efésios 4:32).

Cinquenta anos mais tarde, levado para execução desde sua igreja em Antioquia até Roma, Inácio, um dos grandes mártires cristãos, escreve cartas, que ainda existem, às igrejas da Ásia Menor. Detém-se em Esmirna e dali escreve à igreja de Éfeso. No primeiro capítulo de sua carta, fala muito a respeito de seu maravilhoso bispo. E qual é o Nome do Bispo? Onésimo. E Inácio faz exatamente o mesmo trocadilho que Paulo tinha feito: “É Onésimo de nome por natureza, útil para Cristo”. Onésimo, o escravo fugitivo, chegaria a ser, com o passar dos anos, nada menos que Onésimo, o grande bispo de Éfeso (Colossenses 2:6 / 4:9). O futuro declarou o que realmente foi gerado naquela prisão onde Paulo e Onésimo um dia se encontraram. Merece ser destacado para eles que as prisões podem ser a incubadora que Deus cria para que venhamos a dar frutos que abençoarão milhares de vida. 

Conclusão


É preciso mais do que amor para resolver problemas. O amor deve pagar um preço. Deus nos salvou por Seu amor e deu Seu Filho por nós (Efésios 2:8-9). A graça de Deus é o Seu amor, que cobriu o salário do pecado, nos resgatou e nos deu a vida eterna (Romanos 6:23).




Participe da EBD deste domingo, 25/10/2015, e descubra você também os segredos para uma vida de fé e atitudes

Material Didático:
Revista Jovens e Adultos nº 97 - Editora Betel
Comentarista: Pr. José Fernandes Correia Noleto
Maturidade Espiritual 
Lição 4 

Comentários Adicionais (em azul):
Pb. Miquéias Daniel Gomes




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